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António Sousa Homem

Crónicas de um reaccionário minhoto.

António Sousa Homem

Crónicas de um reaccionário minhoto.

04/12/13

Da meteorologia de hoje à questão europeia

A Dra. Celina, nossa bibliotecária de Caminha, enviou-me uma fotografia das nuvens que cobriam a foz do Minho depois do temporal da semana passada. Ela sabe que me comovo sempre com a meteorologia do lugar; o único programa que a televisão da família nunca falhava, durante muito tempo, era o boletim do Dr. Anthímio de Azevedo e o seu sorriso complacente quando comentava as diabruras daquele ‘A’ gigantesco que estava gravado no centro do Atlântico e que assinalava, justamente, o anti-ciclone dos Açores. A esta distância, tenho saudades daquele ‘A’ que comandava o nosso destino – mais do que o controle sobre os céus do Atlântico, a ondulação a norte do Cabo Carvoeiro ou as correntes do Árctico.

A fotografia que a Dra. Celina nos trouxe era uma máscara escura sobre uma paisagem de Turner. A minha sobrinha Maria Luísa murmurou que era assim que estávamos – todos, cobertos pela penumbra dos céus. Ela referia-se ao país, às finanças públicas e privadas, ao ânimo dos concidadãos; uma conjugação temível que não poupa ninguém e que a todos preocupa.

Como se quisesse ver um clarão de luz para lá da colina que vai de Camposancos aos areais da Armona, entrando pela Espanha dentro, Maria Luísa suspirou para afastar as nuvens que antecedem e sucedem aos temporais, umas mais carregadas do que as outras – mas nuvens, de qualquer modo.

O ‘A’ da meteorologia do Dr. Anthímio de Azevedo comandava não apenas os nossos destinos mas também os dos céus europeus (com tantas alterações no último século não sei se isso ainda acontece); bons tempos esses: na meteorologia, o anticiclone dos Açores; nas modas, os alfaiates de Saville Row e os desenhos de Coco Chanel; na música, os discos do velho Doutor Homem, meu pai, melómano desconsiderado por toda a família, que ameaçava com os discos de Anna Moffo; na política, os discursos de Acúrsio das Neves; na culinária, os ensinamentos da Tia Henriqueta, com o seu sorriso eterno e feliz; na televisão, nada – porque o ‘Se Bem me Lembro’, do Professor Nemésio, só começou em 1969, quando o nosso mundo estava seguramente defunto. Hoje, temo bem que seja a Europa a encaminhar-se para o fim.

A minha sobrinha Maria Luísa alimenta, secretamente, a esperança de que a Europa nos venha livrar das nuvens que pesam sobre todos nós. Evito desiludi-la, mas sou um céptico quase profissional, habituado a esperar pouco do mundo e menos ainda de mim ou dos meus semelhantes. E, cuidadosamente, não lhe pergunto: e se as nuvens já cobrem, realmente, toda a Europa?

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